A Covid-19 pode impactar a capacidade cognitiva e de memória de pessoas por mais de um ano após a infecção, de acordo com pesquisadores do Imperial College London, na Inglaterra. Em um novo estudo, os cientistas descobriram pequenas deficiĂȘncias no desempenho de tarefas cognitivas e de memórias em pessoas que se recuperaram da infecção pelo coronavĂrus, em comparação com quem não teve a doença.
Os resultados do estudo, publicados no final de fevereiro no New England Journal of Medicine, também incluem pessoas que apresentaram Covid longa, ou seja, sintomas que perduram por meses ou, até mesmo, anos após a infecção.
O estudo envolveu mais de 140 mil participantes, que foram convidados a realizar uma avaliação cognitiva inovadora na plataforma Cognitron, que compreende tarefas que podem detectar mudanças sutis em diferentes aspectos da função cerebral, como memória, raciocĂnio, função executiva, atenção e impulsividade.
A grande escala do estudo e a sensibilidade dos testes utilizados pelos pesquisadores permitiu que os fatores relacionados aos déficits cognitivos pós-Covid fossem examinados detalhadamente, controlando variĂĄveis como idade, dados demogrĂĄficos e condições médicas pré-existentes.
Os resultados do estudo mostraram pequenas deficiĂȘncias cognitivas que ainda eram detectĂĄveis um ano ou mais após a infecção por Covid-19, principalmente em pessoas que tiveram Covid longa — apesar de os pesquisadores também terem encontrado esse déficit em pessoas que tiveram sintomas por um curto perĂodo.
De acordo com os pesquisadores, o impacto na função cognitiva foi maior em pessoas que tiveram sintomas que duraram 12 semanas ou mais, naquelas que foram hospitalizadas devido à doença ou em quem foi infectado com uma das variantes iniciais do vĂrus da Covid-19.
"Os potenciais efeitos a longo prazo da COVID-19 na função cognitiva tĂȘm sido uma preocupação para o pĂșblico, os profissionais de saĂșde e os decisores polĂticos, mas até agora tem sido difĂcil medi-los objetivamente em uma grande amostra populacional", afirma Adam Hampshire, coautor do estudo e professor do Departamento de CiĂȘncias do Cérebro do Imperial College London, em comunicado.
Os resultados mostraram que a Covid-19 estava associada a impactos negativos em mĂșltiplas ĂĄreas da cognição, principalmente na memória, como, por exemplo, a capacidade de lembrar imagens de objetos que foram vistos alguns minutos antes.
Além disso, os participantes também apresentaram pequenos déficits em algumas tarefas que testam habilidades executivas e de raciocĂnio, como planejamento espacial e raciocĂnio verbal.
"Ao utilizar a nossa plataforma online para medir mĂșltiplos aspectos da cognição e da memória em grande escala, fomos capazes de detectar défices pequenos, mas mensurĂĄveis, ??no desempenho de tarefas cognitivas. Descobrimos também que as pessoas provavelmente foram afetadas de diferentes maneiras, dependendo de fatores como duração da doença, variante do vĂrus e hospitalização", explica Hampshire.
O estudo também mostrou que aqueles que tiveram Covid longa, mas que não tinham mais sintomas no momento do estudo, tiveram uma melhoria nas funções cognitivas a nĂveis semelhantes aos participantes que tiveram sintomas com curta duração.
"Além disso, o impacto cognitivo da COVID-19 parece ter diminuĂdo desde as fases iniciais da pandemia, com menos pessoas a terem doenças persistentes e a cognição sendo menos afetada entre aqueles que foram infectados durante o perĂodo em que Omicron era a variante dominante", comenta Paul Elliot, autor sĂȘnior do estudo e diretor do programa REACT, da Escola de SaĂșde PĂșblica do Imperial College London.
"No entanto, dado o grande nĂșmero de pessoas infectadas, serĂĄ importante continuar a monitorizar as consequĂȘncias clĂnicas e cognitivas a longo prazo da pandemia da COVID-19", completa.
Fonte: CNN BRASIL