Portal de Notícias Administrável desenvolvido por Hotfix

Riva

De uma das figuras mais poderosas de Mato Grosso a um dedicado prestador de serviços comunitários.


Quem examinar a trajetória política de Mato Grosso nos últimos 30 anos com certeza se deparará com uma figura marcante e controversa. José Geraldo Riva, que começou sua carreira política na região médio-norte do estado, foi eleito prefeito do município de Juara (709 km de Cuiabá) aos 23 anos, em 1983, tornando-se o prefeito mais jovem do Brasil naquela época. No entanto, sua trajetória, marcada por ascensão política, também foi recheada de polêmicas e escândalos, e ele terminou sua carreira com dezenas de processos e envolvimento em vários esquemas de desvio de verbas públicas.


Riva iniciou sua vida política com um primeiro mandato de prefeito de Juara, que se estendeu até 1988. Mais tarde, em 1994, foi eleito deputado estadual com cerca de 8 mil votos em uma chapa de partidos de pequeno porte. À primeira vista, ele parecia ser apenas mais um parlamentar do baixo-clero, com pouca perspectiva de se destacar. Contudo, logo em sua estreia na Assembleia Legislativa, ele surpreendeu ao ser eleito primeiro-secretário da Casa, o que representou o primeiro passo para consolidar sua ascensão ao topo da política estadual, se tornando a figura mais influente de Mato Grosso entre meados da década de 1990 e sua aposentadoria política em 1º de fevereiro de 2015.


Após deixar a política ativa, Riva enfrentou uma série de reveses legais e judiciais. Ele foi preso diversas vezes após perder o foro privilegiado, uma vez que já não ocupava mais o cargo de deputado. No entanto, Riva conseguiu transferir sua herança política para sua filha, Janaina Riva (MDB), que se tornou a deputada estadual mais votada nas últimas duas eleições do estado.


Riva, que foi considerado o político mais investigado e processado do Brasil, com mais de 100 inquéritos em seu nome, viu esse número se multiplicar após sua aposentadoria. A primeira prisão ocorreu em 2014, no último ano de seu mandato como deputado, durante a Operação Ararath, em maio daquele ano. No entanto, ele foi libertado três dias depois devido a um erro no pedido, já que ele ainda detinha foro privilegiado.


Em 2015, após tentar disputar o governo do Estado e ter seu registro de candidatura negado devido a várias condenações, Riva se afastou oficialmente da política. No entanto, apenas 20 dias após sua aposentadoria, ele foi novamente preso, desta vez durante a Operação Imperador, no dia 21 de fevereiro de 2015. A investigação apontou um esquema de desvio de R$ 60 milhões dos cofres públicos, com falsas aquisições envolvendo empresas de fachada do ramo de papelaria. Riva e sua esposa, Janete Riva, juntamente com mais 13 pessoas, foram denunciados e investigados.


O ex-deputado passou 123 dias no extinto Centro de Custódia da Capital (CCC), mas foi solto em junho daquele ano, após o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar sua libertação. Porém, logo após sua soltura, Riva foi preso novamente em 1º de julho de 2015, desta vez na Operação Ventríloquo, que investigou o pagamento de uma dívida superior a R$ 9 milhões da Assembleia Legislativa com o banco HSBC, relacionada à contratação de seguros de saúde para servidores da Casa. Apesar de passar apenas 13 horas preso, ele foi solto por meio de um habeas corpus concedido pelo ministro do STF, Gilmar Mendes.


Em outubro de 2015, Riva foi preso pela terceira vez, desta vez pela Operação Célula-Mãe, a segunda fase da Operação Metástase. A investigação revelou que ele teria sido o mentor de um esquema de desvio de mais de R$ 2 milhões entre 2010 e 2014, envolvendo verbas destinadas a pequenos gastos mensais dos gabinetes da Assembleia Legislativa, conhecidos como "verbas de suprimento de fundos".


Riva foi finalmente solto em abril de 2016, após quase seis meses de prisão. Nesse mesmo ano, ele começou a colaborar com as investigações e confessou os esquemas dos quais era acusado. Sua postura colaborativa com a Justiça foi vista como o início de sua tentativa de negociar uma colaboração premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR), o que só se concretizou no final de 2018. As confissões de Riva foram cruciais para as investigações relacionadas ao esquema "Arca de Noé", que envolveu o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro. Em 2017, começaram a surgir as primeiras condenações contra ele, que logo somaram mais de 60 anos de prisão.


Diante das inúmeras prisões e acusações, Riva se viu encurralado e não teve outra opção senão se tornar um delator. Em 2017, ele procurou a colaboração premiada junto ao Ministério Público Federal (MPF), que estava investigando políticos com foro privilegiado. No entanto, a colaboração foi rejeitada pela Corte Suprema em 2018, sob a alegação de que Riva teria cometido infrações durante a negociação com a PGR. Posteriormente, em 2019, Riva iniciou tratativas com o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) e, em 2020, conseguiu formalizar sua colaboração premiada.


Como parte do acordo, Riva foi colocado em prisão domiciliar em outubro de 2020 e comprometeu-se a devolver R$ 92 milhões aos cofres públicos, como ressarcimento pelos desvios. Até fevereiro de 2021, ele já havia pago R$ 15 milhões. Sua prisão domiciliar foi estipulada por um período de 2 anos e 6 meses, com monitoramento eletrônico e a restrição de deixar sua residência apenas com autorização judicial. Em setembro de 2022, ele foi transferido para o regime semiaberto e, após conseguir remissão de pena por meio de leitura de livros e participação em cursos, atualmente cumpre o restante de sua sentença em regime aberto. Além disso, ele foi condenado a prestar serviços comunitários por 8 horas semanais.


José Riva foi um dos políticos mais influentes de Mato Grosso de 1995 a 2014, presidindo a Assembleia Legislativa por vários mandatos. Em seus depoimentos, Riva revelou que, durante sua trajetória de 20 anos como deputado, havia pago propina a 38 parlamentares para garantir o apoio ao governo do Estado. Sua história, marcada por ascensão política e queda vertiginosa, é um retrato das complexas relações entre poder, corrupção e impunidade no Brasil.

Gazeta digital

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!

Assine o Portal!

Receba as principais notícias em primeira mão assim que elas forem postadas!

Assinar Grátis!