Relatório da Operação Ragnatela, deflagrada pela Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICCO-MT), aponta que assessores do vereador Paulo Henrique (PV) sugeriram que o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) "pressionasse" a liberação de alvarás para a realização de eventos do Comando Vermelho (CV), em Cuiabá. Operação foi deflagrada na quarta-feira (5) e teve como alvo ex-jogador, vereador, assessores e promotores de eventos na cidade.
Durante o primeiro período de interceptação telefônica da investigação, a polícia obteve áudios referentes a um evento "Baile Carreta Treme-Treme", realizado na Acrimat, no dia 04 de junho de 2022. A produção contava com a ajuda dos assessores Rodrigo Leal e Jardel Pires, que realizavam os shows no Dallas e em outras casas noturnas. Além da ocupação formal como promoters, eles, segundo a polícia, ajudavam na interlocução da facção.
Contudo, o Ministério Público de Mato Grosso (MPMT) recomendou à Justiça que o alvará da festa não fosse emitida pela Secretaria do Meio Ambiente, por conta da poluição sonora. "Tal evento contou com atuação contrária do Ministério Público provocada por denúncia de moradores da região, incomodados com os altos ruídos dos shows. Segundo os áudios, o principal questionamento foi a falta de alvará emitido pela Secretaria do Meio Ambiente, atestando a conformidade com os padrões legalmente aceitos de poluição sonora", cita o documento.
Na véspera da festa, o grupo foi surpreendido pela fiscalização, realizada por agentes que não tinham vínculo com o grupo. "Depreende-se dos diálogos que a fiscalização foi realizada por agentes não comprometidos com o esquema de favorecimento, motivo pelo qual não se obteve a licença necessária para a realização do evento. Diante de tal fato, o Ministério Público de Mato Grosso ingressou com ação judicial e obteve decisão favorável, impedindo a realização do evento", aponta outro trecho.
A situação gerou transtorno e descontentamento entre a organização do evento, que buscaram reverter a situação através da interferência de agentes políticos da prefeitura. Em um dos diálogos, Jardel cita a intenção de entrar em contato com Emanuel e com os vereadores Marcus Britto (PV) e Paulo Henrique (PV) para pressionarem o então Secretário do Meio Ambiente, Renivaldo Nascimento (PSDB), a assinar o alvará que permitiria a realização do evento.
Instantes depois, Paulo Henrique cita que estava resolvendo a situação. "Paulo Henrique retorna a ligação para Jardel e informa que Rodrigo Leal está tentando resolver essa situação e, assim, evitar a apreensão da carreta. Informa ainda que não estava sabendo dessa fiscalização", cita outro trecho.
No dia do evento, Leal recebe a ligação da oficial de Justiça informando da decisão judicial que autorizou a realização da festa. Contudo, a atração só ocorreu até às 23 horas, porque houve uma nova fiscalização conduzida por Gilberto Santos, fiscal da prefeitura, que resultou no encerramento do show e apreensão da carreta de som.
O inquérito cita, que, após a liberação judicial, Emanuel teria ligado para o agente da fiscalização. No entanto, o servidor não atendeu. "Destaca-se que nessa ligação Jardel informa mais uma vez que a ação fiscalizatória ocorreu por conta do fiscal Gilberto Santos e que, inclusive, o prefeito teria ligado para Gilberto, mas ele não atendeu", cita.
Jardel se irritou com a situação. "Ele pagou de louco...você bota fé?", disse ao se referir a Gilberto, em diálogo com um dos integrantes do grupo.
Insatisfação
Após a situação, o print de uma conversa demonstra que Jardem tinha exposto a interlocutores certa preocupação com o barulho do evento. Rodrigo Leal responde expressando que "infelizmente, se as coisas continuarem dessa forma, Cuiabá não poderá mais realizar eventos a céu aberto". Emanuel sugere o "desejo de conversar e alinhar essa questão".
Um dos integrantes cita estar até com "coração partido", mas admite que o chefe do Executivo não poderia influenciar em orientações do Ministério Público. "Infelizmente, nem o prefeito consegue resolver esse trem aí. Isso que, isso que, isso que corta o coração da gente, porque a gente tá toda hora lá na Câmara, com os vereadores, com deputado, na Assembleia, você é da base do prefeito, entendeu? Aí, aí isso que parte o coração, porque a gente faz de tudo pros caras, chega na hora nem os caras conseguem resolver. É foda mano... Isso que parte o coração", cita.
Outro lado
A Prefeitura de Cuiabá foi procurada e negou qualquer envolvimento do prefeito com os fatos investigados.
Nota à Imprensa
-O prefeito de Cuiabá, Emanuel Pinheiro, esclarece que recebe milhares de demandas e pedidos diariamente. O diálogo e o atendimento público são inerentes à função pública.
-Caso seja necessário, está à disposição para colaborar com os procedimentos investigatórios.
Gazeta Digital